A sociedade se apresenta cada dia mais diversificada em estilos de vida e religiões. Aprender a conviver com essa realidade é um desafio constante que pede instrumentos eficazes, e entre eles destaca-se o diálogo inter-religioso.
Se o ecumenismo é a ponte entre as religiões de confissão cristã, o diálogo inter-religioso é uma extensão ainda maior dessa ponte, poderíamos qualificá-la como uma mega ponte capaz de unir todas as religiões em um só objetivo.
E o diálogo inter-religioso se faz necessário hoje diante de uma sociedade tão líquida? A resposta se encontra com o desafio! Imaginemos o quanto a intolerância religiosa é um entrave para a convivência harmoniosa entre as pessoas em diversos lugares do mundo.
Por isso, vamos aprofundar esse tema que deu origem ao Dia Mundial da Fraternidade Humana com a assinatura do “Documento sobre a Fraternidade Humana. Pela paz e a convivência comum”, pelo Grande Imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayyeb, e Sua Santidade o Papa Francisco.
O que é o diálogo inter-religioso
Diante de uma sociedade tão plural, o diálogo é sempre a primeira possibilidade para o início da convivência pacífica. Por isso que o diálogo inter-religioso é tão importante e urgente.
Podemos defini-lo como a manifestação de fraternidade com pessoas e instituições de outras religiões não cristãs, declarando, assim, que os valores humanos, éticos e religiosos em cada um fazem bem a todos e produzem projetos e ações de promoção do bem comum.
De forma prática, o diálogo inter-religioso é o diálogo entre católicos e judeus, católicos e islâmicos, católicos e religiões afro, como também fomenta o diálogo entre religiões diversas, mesmo sem a presença da confissão cristã entre elas.
O diálogo inter-religioso promove a comunicação e o relacionamento entre pessoas de religiões diferentes, envolvendo partilha de vida, experiência e conhecimento, e o respeito à identidade e à religiosidade do outro é o elemento mais importante durante o processo.
Há pessoas e grupos religiosos que convivem com as diferenças de modo positivo e civilizado. É fundamental aprender a valorizar as atitudes e as virtudes dos outros, e a religião deve contribuir de forma significativa para que essa harmonia se torne real.
Dicastério para o Diálogo Inter-religioso
O diálogo inter-religioso alavancou após o Concílio Vaticano II, quando a Igreja Católica abriu as portas à modernidade multicultural em vista da conquista do homem moderno e da construção da paz através da solidariedade e, desde então, são muitas as iniciativas realizadas pelo Vaticano em vista desse fim.
E entre eles se encontra o Dicastério para o Diálogo Inter-religioso que trabalha para regulamentar as relações com os membros e os grupos de outras religiões, com exceção do judaísmo, cuja competência cabe ao Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O Dicastério empenha-se para que o diálogo com os seguidores de outras religiões se desenvolva de forma conveniente, com escuta, estima e respeito. É missão do Dicastério ajudar os Bispos diocesanos/paroquiais na formação daqueles que se empenham no diálogo inter-religioso.
Para tanto, essa missão exige pessoas especializadas na área, comunhão com as conferências episcopais e as estruturas hierárquicas de outras denominações religiosas e programas de capacitações para a multiplicação de agentes capazes de espalhar o diálogo inter-religioso como um bem para toda a humanidade.
As diferenças nos complementam!
Segundo o Papa Francisco, “cada homem e cada mulher é como um pedaço de azulejo de um imenso mosaico, que já é bonito em si mesmo, mas somente junto com outros pedaços compõe uma imagem, no convívio das diferenças”.
De fato, como nos ensina o evangelho, “…quem não é contra nós é por nós…” (Lc 9,50). Logo, nesse mosaico citado pelo Papa Francisco, fazem parte irmãos e irmãs de raças, culturas e profissões religiosas diferentes e aí está a beleza: na diversidade.
E a beleza é a prova de que a diferença não nos afasta, muito menos nos torna inimigos, mas é uma porta aberta para novos aprendizados, o fortalecimento da identidade religiosa de cada pessoa e de que há mais valores do que discordâncias entre nós.
O diálogo inter-religioso é um tema universal que também foi abraçado pela Organização Nacional das Nações Unidas, em 20 de outubro de 2010.
A ONU instituiu a primeira semana de fevereiro como a Semana Mundial da Harmonia Interconfessional entre todas as religiões e reforçou que a compreensão e o diálogo entre as religiões é condição essencial para a cultura de paz.
Iniciativas em favor do diálogo fazem a diferença
É Deus quem primeiro deseja a união de seus filhos e não se importa a forma como Ele é chamado entre eles, mas com o amor que circula e é capaz de salvar. Por isso, não cessa de inspirar iniciativas, pessoas e carismas para se dedicarem ao diálogo inter-religioso.
Para essa missão, vivem as Irmãs de Nossa Senhora de Sion: uma congregação religiosa nascida para favorecer o diálogo entre judeus e cristãos, como também a promoção do diálogo entre outras confissões religiosas.
A Congregação organiza e realiza programas de estudo, participam e falam em reuniões e conferências locais, nacionais e internacionais, e trabalham em suas paróquias para o quanto o diálogo quebra barreiras, aproxima e enriquece a humanidade.
Se o diálogo inter-religioso é como uma mega ponte que une países, e neste caso religiões, um carisma que trabalha para esse fim é um dom do Espírito, capaz de chegar em qualquer lugar com uma força capaz de reunir e unir pessoas em vista do bem maior: o amor.