O que você sabe sobre as relações judaico-cristãs? Sabia que na Igreja Católica existe uma Congregação religiosa dedicada a isso? São as Irmãs de Sion, formada por mulheres de vida consagrada e com votos religiosos.
Logo, possuem uma vida de compromisso com a Igreja, com o povo judeu e com um mundo de justiça, paz e amor.
As Irmãs de Sion são um ramo feminino da Congregação de Nossa Senhora de Sion, fundada em 1843 por Théodore Ratisbonne, em Paris, França. A congregação tem como missão “testemunhar na Igreja e no mundo que Deus continua sendo fiel em seu amor pelo povo judeu e apressando o cumprimento das promessas concernentes aos judeus e aos gentios”.
Vivemos como comunidade em todo o mundo e apoiando-se em oração, atividade e compromisso mútuo, tanto reciprocamente como também junto às pessoas a quem servimos. O encontro com o mistério do “outro” enriquece nosso ministério e nos mantém conectadas com o mundo.
Théodore Ratisbonne e sua importância para as relações judaico-cristãs
Théodore Ratisbonne nasceu em Estrasburgo, na França, como o segundo de dez filhos de uma amorosa família de judeus que atuava no setor bancário. Como família, os Ratisbonne se destacaram como pessoas honestas e corretas. Além disso, se preocupavam com o bem-estar dos pobres em sua comunidade.
Embora Théodore não tenha recebido educação religiosa formal, ele foi criado segundo os valores judaicos. Seu segundo irmão mais novo, Alphonse (outra pessoa importante para o surgimento das Irmãs de Sion) nasceu em 1814.
Quando Théodore tinha dezesseis anos, enfrentou o luto pela morte da sua mãe. Após essa perda, Théodore investiu bastante tempo na leitura de textos filosóficos, buscando significado e propósito na vida. Logo, iniciou os estudos de Direito, em Paris, e depois continuou em Estrasburgo. Mas, três anos depois, Théodore renunciou ao ofício de advogado. Em vez disso, optou por assumir as escolas que seu pai abriu para famílias judias pobres que habitavam a Alsácia. Ao mesmo tempo, continuou estudando ciências naturais e médicas.
Contudo, em 1923 ele começa a aprender sobre religião e não demorou para se decidir por ser batizado. Logo que se batizou na Igreja Católica, Théodore iniciou os estudos para o sacerdócio. Foi ordenado padre em 1830.
Diálogo e relações judaico-cristãs das Irmãs de Sion
Pode-se dizer que o fundador da Irmãs de Sion, Théodore Ratisbonne, estava à frente de seu tempo na medida em que já apreciava a riqueza de conhecer diferentes religiões.
Sua experiência em primeira mão com o judaísmo e o cristianismo deu a ele percepções sobre as ligações entre as duas religiões e uma apreciação da noção de que a bondade é central para diferentes tradições.
Isso incutiu na Congregação que ele fundou uma atitude de abertura às relações judaico-cristãs que as Irmãs sempre colocaram em prática. E isso aconteceu desde o início de 1800, acolhendo alunos de diversas origens em suas escolas, em um clima de respeito mútuo.
Logo, compreender as interpretações judaicas das Escrituras Hebraicas lança luz sobre as raízes de nossa fé e enriquece nossa apreciação do Novo Testamento — e isso de maneiras que abrem espaço para a alteridade.
Portanto, o trabalho de promoção das relações judaico-cristãs, entre diferentes credos, se estende à criação de espaços em que as pessoas de todas as religiões e culturas possam ouvir e aprender umas com as outras.
E para tanto, as Irmãs de Sion organizam e realizam programas de estudo, participam e falam em reuniões e conferências locais, nacionais e internacionais. Além disso, trabalham nas paróquias para mostrar como a quebra de barreiras e a ligação com quem não conhecemos pode produzir resultados a nível pessoal e também coletivamente, para toda a humanidade.
Relações judaico-cristãs: rumo a um maior entendimento
Em 1965, a Igreja Católica mostrou-se aberta ao diálogo inter-religioso a partir da declaração Nostra Aetate. Nesta declaração, a Igreja reconheceu os vínculos intrínsecos do cristianismo com o judaísmo.
Sendo assim, as Irmãs de Nossa Senhora de Sion identificaram, nisso, uma abertura para tornar sua experiência e conhecimento judaico-cristão ainda mais disponíveis e aprofundá-los, também.
Portanto, hoje a congregação conta com quatro centros de Sion, localizados em Jerusalém, Reino Unido, Costa Rica e Argentina. São centros principalmente voltados para estudo, diálogo e as relações judaico-cristão. E cada centro desenvolveu seu próprio perfil interreligioso.
Conselho de Fraternidade aprofunda as relações judaico-cristãs
Em busca de um nível elevado de comunhão humana, em 1962, surgiu, em São Paulo, o Conselho de Fraternidade Cristão-Judaica (CFCJ). Trata-se de um grupo de pessoas dispostas a levar a sério as exigências da unidade e fraternidade, rejeitando qualquer tipo de discriminação étnica e religiosa.
Busca-se uma convivência em clima de diálogo existencial, no respeito e no amor recíproco entre diferentes credos religiosos, convergindo para os mesmos ideais superiores da compreensão, tolerância, justiça, liberdade, solidariedade e paz.
O CFCJ é uma entidade sem fins lucrativos que tem finalidade cultural nos níveis religioso, moral e social. Contudo, não visa cultivar a vida espiritual de seus membros, tampouco é uma organização política. Não privilegia este ou aquele credo e busca-se viver um clima real de compreensão e amizade inter-religiosa, eficaz por sua viva mensagem confraternizadora.
Sendo assim, CFCJ promove as relações judaico-cristãs por meio de palestras, mesas redondas, debates e eventos.
O CFCJ teve como fundadores o Dr. Hugo Schlesinger (judeu), o Pe. Humberto Porto (católico) e a Ir. Izabel Wilken (religiosa de Sion). Atualmente, a Irmã Cristiane dos Santos, da Congregação de Nossa Senhora de Sion, é a vice-presidente da CFCJ, atuando em prol das relações judaico-cristãs.
Logo, Irmã Cristiane narra que seu ministério voltado ao diálogo judaico-cristão e inter-religioso surgiu durante sua formação com a Mestra de noviças.
Ela afirma que o diálogo com o povo judeu é a essência da sua identidade como Irmã de Sion, aliada ao estudo e ensino das Escrituras. “O diálogo com as demais religiões é um desafio da atualidade que se impõe cada vez mais à medida que ainda nos defrontamos com o antissemitismo, a intolerância religiosa e ao outro”, ela explica. E ressalta: “Sempre precisamos levar o próximo em consideração! Tudo isso implica em entregar-se com amor pela fraternidade e paz”.