Sim, existe ecumenismo no Brasil de maneira muito presente e ativa! E é impulsionado por um histórico diálogo inter-religioso e fortalecido pelo compromisso da Igreja Católica e de outras denominações cristãs. Mas, para entendermos melhor essa realidade, vamos mergulhar em alguns aspectos importantes. Acompanhe!
Entenda o que é ecumenismo na Igreja
A palavra “ecumenismo” tem origem no termo latino oecumenicus, que significa “geral, universal”. Mas também tem raiz no grego oikumenikos, que significa “mundo habitado”.
O ecumenismo se caracteriza pelo movimento que busca a unidade entre as diferentes igrejas cristãs. Desta forma, promove a aproximação, o diálogo, a colaboração e a busca por entendimentos mútuos. Isso porque todos devem ser compreendidos como membros do Corpo de Cristo, apesar de estarem dispersos pelo mundo e marcados historicamente por divisões que romperam a comunhão plena entre si.
Logo, essa iniciativa visa superar as divisões históricas e doutrinárias que separam as comunidades, reconhecendo a fé comum em Jesus Cristo e buscando caminhos para uma maior comunhão.
Contudo, o ecumenismo não consiste na uniformização das diferentes igrejas, mas no conjunto de esforços de diálogo em vista da unidade.
Portanto, o caminho de diálogo ecumênico da Igreja Católica tem basicamente duas frentes: com as Igrejas ortodoxas do Oriente, separadas desde o grande cisma de 1054; e com as Igrejas oriundas da reforma protestante do século XVI.
Logo, além das iniciativas de oração em ocasiões especiais, o ecumenismo se expressa concretamente por meio de estudos bíblico-teológicos e na realização de atividades conjuntas de promoção da caridade e socorro humanitário.
O Ecumenismo não é algo recente
O movimento da Igreja Católica pela unidade de cristãos não é algo recente. Na história da Igreja, foram diversas as iniciativas de diálogo e aproximação entre católicos e comunidades específicas. Contudo, foi a partir da década de 1960 que se iniciou um caminho ecumênico mais intenso, marcado profundamente pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
E como fruto deste Concílio, temos o decreto Unitates Redintegratio, de 21 de novembro de 1964, do Papa Paulo VI.
Esse decreto é considerado por muitos teólogos como “a Carta Magna católica do ecumenismo”. Isso porque estabelece bases doutrinais e orientações pastorais para o diálogo ecumênico na Igreja Católica.
O decreto inicia apresentando a restauração da unidade dos cristãos como um dos “principais objetivos” do Concílio frente ao “escândalo”, à “contradição” e ao “prejuízo” que é a divisão da una e única Igreja de Cristo. Também fala do movimento ecumênico como “obra do Espírito Santo”.
Além disso, outro documento importante sobre o ecumenismo é a encíclica Ut Unum Sint, de São João Paulo II. Neste documento, ele cita que “o apelo à unidade dos cristãos ressoa com vigor cada vez maior no coração dos crentes”. E que “Cristo chama todos os seus discípulos à unidade”.
O Papa Francisco e o ecumenismo
E em tempos mais recentes, temos o Papa Francisco, que desde o início de seu pontificado, tem a unidade dos cristãos como uma prioridade. E são vários os seus gestos, encontros, discursos e declarações em que Francisco continua o caminho traçado por seus predecessores no diálogo ecumênico.
Apenas uma semana após a sua eleição, o ele recebeu o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I, que foi saudá-lo em Roma. Abraçou-o e chamou o líder ortodoxo de “André”, reconhecendo-o como legítimo sucessor do apóstolo irmão de Pedro.
Assim o Papa Francisco repetiu o gesto do Papa Paulo VI com o Patriarca Atenágoras em Jerusalém, que, em 5 de janeiro de 1964, chamou o Pontífice Romano de “Pedro”.
Outras iniciativas ecumênicas
Além disso, o Santo Padre também manifestou proximidade com o Arcebispo Anglicano da Cantuária, Justin Welby, e convidou anglicanos e católicos a trabalharem juntos “para dar voz ao grito dos pobres”.
Na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, de 23 de novembro de 2013, ele afirma: “O compromisso ecumênico corresponde à oração do Senhor Jesus pedindo ‘que todos sejam um só’ (Jo 17, 21)”. E que “é uma contribuição para a unidade da família humana”.
E outro marco histórico foi o primeiro encontro da história entre um Pontífice Romano e um Patriarca Ortodoxo Russo, em 12 de fevereiro de 2016, em Cuba. Na ocasião, Francisco e Kirill assinaram uma declaração conjunta na qual abordam questões sensíveis às duas Igrejas. Logo, a declaração lança um apelo conjunto pela paz e define os “cristãos vítimas de perseguição” como “mártires do nosso tempo, pertencentes a várias Igrejas, mas unidos por um sofrimento comum”.
Aliás, outro passo importante para a comunhão entre as igrejas foi a participação do Pontífice na recordação dos 500 anos da reforma, em 2016, na Suécia. Por fim, tem também a sua visita a Genebra, em 2018, no 70º aniversário do Conselho Mundial de Igrejas. Neste evento, o Papa Francisco destacou que “as divisões entre cristãos se deram porque na raiz, na vida das comunidades, infiltrou-se uma mentalidade mundana”.
Ações práticas de ecumenismo no Brasil
No Brasil, o ecumenismo se manifesta em diversas ações concretas, impulsionadas pela Igreja Católica e por outras denominações cristãs. Entre os exemplos, podemos citar:
Semanas de Unidade: realizadas anualmente, as Semanas de Unidade promovem momentos de oração, reflexão e diálogo entre diferentes igrejas, buscando fortalecer a unidade na fé.
Celebrações Ecumênicas: celebrações conjuntas em datas importantes do calendário cristão. Como a Semana Santa e a Páscoa, são cada vez mais comuns, reunindo fiéis de diversas tradições em torno da fé comum.
Comissões Ecumênicas: órgãos permanentes de diálogo e colaboração entre as igrejas. As comissões ecumênicas promovem estudos bíblicos, seminários, eventos e iniciativas conjuntas em áreas como a educação, a saúde e a ação social.
Conselhos de Igrejas: estruturas que reúnem representantes de diferentes igrejas para o diálogo. Tais como a colaboração e a ação conjunta em questões sociais e políticas, como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) no Brasil.
Congregação das Irmãs de Sion e ecumenismo no Brasil
As Irmãs de Sion se destacam por sua atuação exemplar no campo do diálogo inter-religioso, especialmente na relação entre cristãos e judeus. Através de diversas iniciativas, elas constroem pontes de compreensão, respeito e colaboração entre as duas comunidades:
Centro Sion de Estudos e Diálogo Inter-religioso: localizado em São Paulo, o Centro Sion promove atividades como cursos, seminários e eventos que visam aprofundar o conhecimento sobre as diferentes religiões e fomentar o diálogo inter-religioso.
Participação no Congresso do ICCJ: as Irmãs de Sion participam ativamente nas conferências realizadas pelo Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ). Trata-se de um importante fórum internacional de diálogo inter-religioso que reúne representantes de diversas religiões para discutir temas comuns e buscar soluções para conflitos.
Enfim, o ecumenismo no Brasil é uma realidade vibrante e em constante crescimento, impulsionado pela ação da Igreja Católica, de outras denominações cristãs e de iniciativas como a da Congregação das Irmãs de Sion. Através do diálogo inter-religioso, da colaboração e da busca por entendimentos mútuos, o ecumenismo contribui para a construção de uma sociedade mais justa, pacífica e fraterna.